Pesquisadores apontam outros fatores que podem causar fadiga muscular, além do excesso de ácido láctico
30/10/2012 10:23
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Redação
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E na teoria, ela é definida como a incapacidade na manutenção de determinada potência, e está ligada às alterações metabólicas que ocorrem durante o exercício físico, impedindo que as células do corpo trabalhem normalmente.
Pra quem não sabe, o vilão da fadiga muscular por muitos anos foi o lactato. O mestre em ciência do movimento Adriano Eduardo Silva explica melhor a causa do aumento dessa substância: “O primeiro estudo que demonstrou um aumento no lactato após estimulação do músculo é de 1907. Posteriormente, dois pesquisadores – Hill e Lupton – ganharam o prêmio Nobel em 1923 ao demonstrar que, durante o exercício intenso, o lactato aumenta no músculo e no sangue em decorrência da deficiência de oxigênio. Com isso, a produção de energia é prejudicada e é necessário interromper o exercício”.
Porém, com o passar dos anos, o lactato caiu em descrédito porque muitas vezes interrompe-se o exercício com concentrações relativamente baixas dele. Com isso, um estudo mostrou que a concentração de lactato ao fim de uma atividade física de intensidade máxima em altitude era menor do que ao nível do mar. Por isso, se o modelo inicial estivesse correto, os maiores valores seriam em altitude por conta da deficiência de oxigênio.
Causas da fadiga muscular
Triste notícia, mas a comunidade científica ainda não chegou a um consenso sobre isso. Algumas hipóteses são levantadas, mas a tendência é acreditar que a fadiga seja determinada por múltiplos fatores. Um modelo recente sugere que a fadiga é “consciente”, ou seja, uma decisão voluntária tomada em decorrência da exigência de esforço acima do normal.
Já em outro artigo, autores mostram que o excesso de cálcio na célula pode contribuir para a fadiga muscular e uma das explicações dada é que, em exercícios prolongados, a queda de PH diminui a sensibilidade das proteínas pelo cálcio, dificultando seu retorno para o retículo sarcoplasmático (reservatórios de cálcio). “E com isso, o aumento da concentração de cálcio diminui a força das pontes cruzadas, que fazem a contração muscular”, explica o fisiologista Lucas Samuel Tessutti.
Mecanismo cruelQuando são feitos tiros, por exemplo, a necessidade de produção de energia é muito alta. E, junto a isso, há liberação de hidrogênio. Quanto mais intenso o exercício, maior a produção de hidrogênio e maior a acidez muscular. O problema é que a acidez desfavorece a atividade de enzimas fundamentais para a produção de energia.
No entanto, o organismo reage e alguns agentes entram em ação para neutralizar (ou consumir) o hidrogênio liberado, que está “sobrando”. Caso esses agentes não trabalhem corretamente, ou se sua concentração não for suficiente, aí sim o organismo interrompe a atividade.
Mas, e por que após atividades intensas há altas concentrações de lactato? A resposta, como explica Tessutti, é que exercícios intensos requerem mais energia e, nessa intensidade, o metabolismo anaeróbico (ou seja, com maior produção de lactato que a capacidade de removê-lo) é a forma predominante.
E mais: o lactato, em vez de vilão, pode até dá uma ajudinha aos corredores. “Caso não fosse produzido durante a prática, a acidose e a fadiga muscular aconteceriam mais precocemente e o desempenho no exercício seria gravemente prejudicado”, complementa a doutora em atividade física Cristiane Matsuura.
Assim, trocando em miúdos, a acidez do músculo vem do excesso de hidrogênio gerado pela própria produção de energia, e não do aumento da concentração de lactato e ele até participa do processo de jogar o excesso de hidrogênio para fora da célula.
Como evitar a fadigaPorém, para se obter energia, as reservas iniciais de carboidratos são um fator-chave. Isso porque, durante a corrida, uma boa opção é a ingestão periódica de bebidas à base de carboidratos. Já para evitar a fadiga crônica, a dica é cuidar da periodização, por isso, os atletas devem incluir sessões de treinamento regenerativo com baixo volume e intensidade.
E para complementar, devem ser realizados treinamentos anaeróbicos, com alta produção de lactato, para melhorar o desempenho geral na corrida, com treinos intervalados e repetitivos: “Sessões de qualidade realizadas em intensidades mais elevadas melhoram a economia de movimento”, diz Cristiane.
A fadiga está na sua cabeçaPara o músculo contrair são necessários um estímulo do sistema nervoso e energia disponível no próprio músculo. Se algum desses fatores falharem, a contração não existirá, o que, tecnicamente, é chamado de fadiga.
Até 1987, acreditava-se que a fadiga tinha causas apenas musculares quando Newsholme, pesquisador de Oxford, na Inglaterra, propôs a hipótese da fadiga central, dizendo que o sistema nervoso também poderia falhar.
Porém, a teoria só foi provada quando voluntários em atividades de esforço máximo foram levados à fadiga e então se aplicou um estímulo elétrico no músculo, concluindo-se por fim, que quando um aparelho mandava o estímulo, no lugar do sistema nervoso, havia contração muscular.
Então, os pesquisadores imaginaram que se o exercício pode cansar também o sistema nervoso, o raciocínio de atletas em fadiga central poderia ser afetado. E com isso, testes mostraram que esportistas com essa característica têm o raciocínio piorado em comparação com o estado de descanso.
Atualmente, estudos sobre a fadiga central estão avançando e cientistas agora já pensam em nutrir não só o músculo, mas também o cérebro. Um exemplo de alguns dos nutrientes testados, até agora sem resultados conclusivos, são os BCAAs, ou aminoácidos de cadeia ramificada.
- Fontes: Adriano Silva, Mestre em Ciência do Movimento Humano pela UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina); Cristiane Matsuura, Doutora em Atividade Física e em Desempenho Humano pela UGF (Universidade Gama Filho); Lucas Tessutti, Doutorando em Biodinâmica do Movimento Humano pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e Pablo Lollo, Bacharel em Treinamento Esportivo pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas.
(Matéria publicada na Revista O2 nº71, março de 2009)
Fonte: http://www.ativo.com/Esportes/Pages/conheca_os_viloes_causadores_da_fadiga_muscular.aspx
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